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Há hoje uma crise na Igreja?

Seria preciso cobrir os olhos para não ver que a Igreja Católica sofre uma grave crise. Esperava-se, nos anos sessenta, na época do Concílio Vaticano II, uma nova primavera para a Igreja, mas foi o contrário que aconteceu.

Encontro inter-religioso de João Paulo II em Assis.

Basílica de São Pedro profanada com exaltação de divindade pagã Pacha Mamma.

Papa Francisco no Sínodo da Amazônia. 

Hippies em um festival usando paramentos (casulas romanas) descartados pelo período do pós-Concílio.

Milhares de padres abandonaram seu sacerdócio; milhares de religiosos e de religiosas retornaram à vida secular. Na Europa e na América do Norte, as vocações se tornam raras, e não se pode nem mais computar o número de seminários, conventos e casas religiosas que tiveram que fechar. Muitas paróquias permanecem sem padre e as congregações religiosas devem abandonar escolas, hospitais e asilos para idosos. “Por alguma fissura, a fumaça de Satanás entrou no Templo de Deus” – essa era a queixa do Papa Paulo VI em 29 de junho de 1972.

No conjunto da Igreja, entre 1962 e 1972, 21.320 padres foram reduzidos ao estado leigo. Não estão incluídos neste número aqueles que negligenciaram pedir uma redução oficial ao estado leigo. Entre 1967 e 1974, trinta a quarenta mil padres teriam abandonado sua vocação. Esses fatos catastróficos podem, com algum esforço, ser comparados com os acontecimentos que acompanharam a auto-intitulada “Reforma” protestante do século XVI.

Uma prova incontestável das mudanças internas na  Igreja.

As inovações modernistas não foram implantadas na Igreja da noite para o dia. E isso foi um incômodo para vários grupos progressistas que lamentavam que as mudanças pós-conciliares estavam ocorrendo muito lentamente. Olhando em retrospecto, podemos olhar este documentário de 1968, produzido pela NBC, com outros olhos.

Não apenas entendendo o otimismo da geração dos anos 60, como também observando os maus frutos que foram produzidos após isso. Reparem que este documentário é anterior à missa nova e, ainda assim, já podemos ver muitos detalhes que se tornaram regra na igreja conciliar, provavelmente com o uso do missal de 1964. Também vemos o incentivo à participação dos leigos, ao abandono do hábito religioso e à discussão sobre o celibato opcional. Além disso, podemos reparar também no espírito de serviço e de iniciativas de jovens, que na época eram restritos a certos grupos experimentais e, hoje, também se tornaram regra nos grupos jovens e nos movimentos diocesanos.

Para os comentários deste filme, agradecemos a disponibilidade do Professor Carlos Bezerra.

A infiltração modernista denunciada pela Igreja.

A Igreja, ao longo dos séculos, jamais deixou de advertir contra tentativas de infiltração doutrinal: movimentos, correntes e “novidades” que surgiam não como ataques externos, mas como sementes lançadas no interior do próprio corpo eclesial. No início do século XX, porém, essa dinâmica silenciosa assumiu uma gravidade inédita. O modernismo não se apresentou como uma heresia isolada, mas como um sistema completo, multiforme, capaz de adaptar-se e disfarçar-se em qualquer ambiente. Por isso São Pio X o definiu como “a síntese de todas as heresias”.

Em sua encíclica Pascendi Dominici Gregis (1907), o Papa denunciou que o perigo modernista era singular não apenas pelo conteúdo doutrinário, mas sobretudo pelo método de infiltração. Não se tratava de intelectuais abertamente hostis à Igreja, mas, ao contrário, de pessoas profundamente inseridas nela:

“Os modernistas não se encontram fora, mas dentro da Igreja; e tanto mais perigosos quanto menos percebidos.” (Pascendi, n. 2)

Uns se mostravam moderados, outros radicais; uns falavam aos católicos conservadores, outros aos intelectuais racionalistas. E assim, com duas linguagens, procuravam agradar a todos:

“Dizem-se conservadores entre os racionalistas e racionalistas entre os católicos, para agradar a ambos e permanecer seguros.” (Pascendi, n. 20)

A característica central do modernismo, segundo São Pio X, não era a ousadia intelectual, mas a ambiguidade sistemática:

“Nada é mais característico do modernismo do que as ambiguidades: falam com dois sentidos, e o pensamento real está sempre oculto.” (Pascendi, n. 18)

Por isso o Papa descreveu o modernismo como uma conspiração interna, não no sentido romântico, mas na lógica de um sistema articulado, onde cada membro reforça o outro:

“Não é um erro isolado, mas um conjunto, uma rede — uma verdadeira conspiração contra tudo o que é sobrenatural.” (Pascendi)

Essa “conspiração”, porém, não era mera figura de linguagem. Diante da penetração modernista em seminários, universidades, congregações e até na formação do clero, São Pio X tomou uma medida rara na história da Igreja: criou uma estrutura de vigilância organizada, o Sodalitium Pianum (1909), coordenado por Mons. Umberto Benigni.

Popularmente chamado de “polícia secreta antimodernista”, o Sodalitium Pianum funcionava como uma rede internacional de correspondentes e pesquisadores dedicados a identificar escritos, conferências, influências e professores que propagassem erros modernistas — especialmente aqueles que o faziam de modo velado. Seu funcionamento era discreto e interno, voltado à informação direta ao Santo Ofício. São Pio X não deixou dúvidas quanto à necessidade dessa vigilância:

“Se não fossem combatidos com vigor, não restaria pedra sobre pedra da fé católica.” (Pascendi, n. 45)

A gravidade do problema era tamanha que, em 1910, o Papa instituiu o Juramento Antimodernista, obrigatório para sacerdotes e professores de teologia, onde se condenavam explicitamente as metodologias que sustentavam essa infiltração:

“Reprovo e rejeito o erro dos que afirmam ser possível estabelecer um sentido distinto dos dogmas que a Igreja propôs.”
“Professarei até o último suspiro a doutrina transmitida desde os Apóstolos, sempre no mesmo sentido e na mesma sentença.”

O Sumo Pontífice São Pio X (1835-1914)

Para S. Pio X, o modernista típico era um homem de duas faces: católico numa página, racionalista noutra. A ambiguidade deliberada — não a clareza — era sua primeira arma:

“O modernista compõe um livro que é católico numa página, racionalista na outra; de modo que, se o censuram como católico, apelará para o racionalismo; se o atacam como racionalista, dirá que é católico.” (Pascendi, n. 18)

Essa oscilação não era uma falha de caráter, mas um método cuidadosamente calculado. S. Pio X observa:

“Numa só sentença pode-se encontrar uma coisa e a contrária: é um conjunto de ambiguidades, de concessões, que acabam por destruir toda fé.” (Pascendi, n. 18)

Dessa duplicidade derivava uma estrutura quase “partidária” dentro da própria Igreja: uma divisão interna de funções, semelhante ao que hoje se descreveria como lógica de “esquerda” e “direita”, mas aplicada ao campo doutrinal.

“Entre eles há uma divisão de trabalhos: alguns se ocupam da filosofia, outros da exegese, outros da apologética; mas todos se unem no mesmo veneno.” (Pascendi, n. 38)

 

Alfred Loisy, o fundador dos modernistas (1857-1940)

Excomungado vitandus em 7 de março de 1908 — ou seja, considerado alguém a quem os fiéis deveriam evitar por S. Pio X.

Quem foram os responsáveis, os infiltrados?

Karl Rahner (1904-1984)

“Hoje, depois de o trabalho litúrgico pós-conciliar ter tomado medidas decisivas sobre a questão linguística, é fácil expor a exigência de uma disciplina linguística misteriosa como um absurdo e esta mesma como uma relíquia de museu e uma contradição com a essência comunicativa da linguagem. O mérito deste artigo não deve ser esquecido.” (Karl Rahner e Herbert Vorgrimler Kleines Konzilskompendium p. 42).

Yves Congar (1904-1995)

Yves Congar (dominicano, 1904-1995) é o pai da “Nova Eclesiologia”, isto é, da nova maneira de conceber a Igreja. Discípulo do padre Chenu, fez cursos na faculdade protestante de Estrasburgo, logo depois de sua ordenação sacerdotal. Decidiu consagrar toda a sua vida à reaproximação da Igreja com os hereges e com os cismáticos, chegando até a pretender que: “Lutero é um dos maiores gênios religiosos de toda a História. Coloco-o, neste aspecto, no mesmo plano de Santo Agostinho e de Santo Tomás de Aquino ou Pascal. De uma certa maneira, Lutero é ainda maior. Repensou o Cristianismo (…) Estudei muito Lutero. Não passa um só mês sem que eu consulte seus escritos”. Submetido, a partir de 1947, a uma supervisão estreita ( ele dirá mais tarde: “ Conheci, a partir do começo de 1947, até o fim de 1956, uma série de denúncias, de advertências, de medidas restritivas ou discriminatórias, de intervenções desconfiadas”), continuou sustentando as mesmas idéias virulentamente (ele mesmo conta, no seu Diário íntimo, como foi, por duas vezes, a Roma, urinar na porta do Santo Ofício, em sinal de protesto!) Yves Congar foi, mesmo assim, chamado como expert ao Vaticano II, por João XXIII, e influenciou o Concílio grandemente. João Paulo II o nomeou Cardeal em outubro de 1994.

“O próprio Congar urinou na porta do Santo Ofício, em sinal de desprezo pela instituição suprema da Igreja” (Journal d’un théologien 1946-1954, Editions du Cerf, Paris 2000, pág. 88, 293).

Von Balthasar (1905-1988)

“O Concílio de Trento foi acompanhado por uma nuvem de santos que, quanto a essas reformas que o Concílio decidiu e propôs, as realizaram com um empenho inédito. O Vaticano II provavelmente não foi acompanhado por tal nuvem. E a sequência mais óbvia é vista como um grande colapso.” (Hans Urs Von Balthasar ,Voraussetzung einer Geisterneuerung: Zur Lage der Kirche in der Schweiz, THEOLOGISCHES, outubro de 1978, número 102.)

Henri de Lubac (1986-1991)

“O que eu percebo hoje desses assaltos não me faz maldizer minha época, mas me leva a perguntar: não teria sido melhor considerar mais seriamente, desde o começo, meu caráter de fiel, meu papel de padre e de membro de uma Ordem apostólica, em suma, minha vocação, e principalmente concentrar com maior decisão meu trabalho intelectual precisamente no centro da fé e da vida cristã, em vez de o desperdiçar em domínios mais ou menos periféricos, segundo meus gostos ou segundo a atualidade?” (Henri de Lubac, Mémoire autour de mes oeuvres, pág. 389).

Joseph Ratzinger (1927-2022)

O próprio ser agora corresponde à noção de tempo. […] A verdade torna-se função do tempo; o verdadeiro não é simplesmente verdadeiro, pois a verdade também não é pura e simplesmente; ela é verdadeira por um tempo porque pertence ao devir da verdade, que existe na medida em que se torna.” (Joseph RATZINGER, Les Principes de la théologie catholique, Paris, Téqui, 1982.).

Teilhard de Chardin (1881-1955)

Descobrindo um ápice para o mundo, a Evolução torna Cristo possível, assim como Cristo, dando um sentido ao mundo, torna possível a Evolução.” (Teilhard de Chardin, “Comment je crois”, citado em A Nova Teologia – Os Que Pensam Que Venceram, p. 180–182). Aqui ele diz que Cristo não é Deus que entra na história, mas um produto da própria história, surgido porque o universo evoluiu.

“Os livros do Padre Teilhard de Chardin, S. J., devem ser retirados das bibliotecas dos seminários e instituições religiosas, não podem ser colocados à venda em livrarias católicas e não é lícito traduzi-los para outras línguas.” (Decreto do Santo Ofício, 6 de dezembro de 1957, citado em La cosmovisión de Teilhard de Chardin, Introdução).

Os novos teólogos, aqueles que pensam ter vencido: homens que anteriormente foram condenados ou censurados pela Santa Sé e pelo Santo Ofício, mas que, com a ascensão do Concílio Vaticano II, tornaram-se especialistas, mestres e “faróis” para os padres conciliares!

“Enquanto as cadeiras teológicas são ocupadas pelos colegas da Consilium (ala avançada do modernismo), quase todos os teólogos nomeados bispos nestes últimos anos provêm dos grupos da Communio (ala moderada do mesmo modernismo)… Balthasar, De Lubac e Ratzinger, os fundadores [da Communio], todos se tornaram cardeais.” (L’Étrange théologie de Jean Paul II et l’esprit d’Assise, Edições Fideliter. 30 Jours de dezembro de 1991.).

A expressão “Nova Teologia” pode parecer estranha hoje, mas antes do Concílio Vaticano II (1962–1965) era amplamente conhecida. Foi tão relevante que o Papa Pio XII dedicou-lhe a encíclica Humani Generis, denunciando os erros dos novos teólogos. Apesar da expressão não ser mais usada, a preocupação permanece, pois os erros que ela representava foram adotados pelo Concílio Vaticano II e o que hoje conhecemos por teologia nada mais é do que a Nova Teologia, aquela mesma já condenada por Pio XII e São Pio X ao condenar os modernistas.

Em 1946 o Pe. Garrigou-Lagrange lança sua grave advertência: “Para onde vai a nova teologia? Ela retorna ao modernismo pela via da fantasia, do erro, da heresia”; “a verdade já não é o que é, mas o em que se torna, e muda sempre”, e isto “conduz ao relativismo completo” (La Nouvelle Théologie…, pág. 20).

Alguns fatos ocorridos com o advento da tomada da Igreja pela seita do “Concílio Vaticano II”.

  • 1964: Destituição da tiara papal e ingresso do Estado do Vaticano na ONU;

  • 1966: Abolição do Index Librorum Prohibitorum;

  • 1967: Supressão do juramento antimodernista;

  • 1968: Novo rito de Ordenação;

  • 1969: Novo rito da Missa (ceia luteranglicana maçônica);

  • 1969: Novo rito do Batismo;

  • 1969: Novo rito do Matrimônio;

  • 1969: Novo calendário litúrgico (abolição das 4 Têmporas, etc);

  • 1970: Novo Breviário;

  • 1970: Nova bênção dos santos óleos;

  • 1971: Novo rito do Crisma;

  • 1972: Novo rito da Extrema-unção;

  • 1973: Novo rito da Penitência;

  • 1983: Novo Código de Direito Canônico;

  • 1983: Novo processo de canonização;

  • 1992: Novo Catecismo;

  • 1998: Novo rito de Exorcismo;

  • 2001: Novo Martirológio Romano;

  • 2002: “Mistérios Luminosos” adicionados ao Rosário;

  • 2015: Ecologismo e culto à mãe terra;

  • 2016: Comunhão para adúlteros;

  • 2017: Martinho Lutero, testemunha do Evangelho;

  • 2018: Proibição da pena de morte;

  • 2019: Culto ao demônio pagão pachamama e Declaração de Abu Dhabi;

  • 2021: Restrições à Missa de sempre (Traditionis Custodes) e instituição da democracia no clero: “Sínodo da Sinodalidade”;

  • 2022: Globalismo maçônico e perenialismo / união transcendental das religiões.

  • 2023: Novas restrições à Missa de sempre; bênção à sodomia.

A versatilidade da Missa Nova: abuso litúrgico ou total coerência com a finalidade de um rito que se permite a tais excessos?

A ruptura causada pela nova liturgia.

Rito Protestantizante: O pior erro que circunda a Missa Nova, em questão de “doutrina”, seria a Institutio Generalis, sobretudo em seu famoso inciso 7.

A Ceia do Senhor, ou Missa, é a assembleia sagrada ou congregação do povo de Deus, reunido sob a presidência do sacerdote para celebrar o memorial do Senhor. Daí ser eminentemente válida, quando se fala da assembleia local da Santa Igreja, aquela promessa de Cristo: ‘onde se acham dois ou três congregados em meu nome, aí estou eu no meio deles’ (Mt 18,20)”.

Aqui, ela nos dá a noção da ceia dos protestantes enquanto definição de seu rito de missa.

Mas é por isso deixamos entre aspas o termo acima mencionado “doutrina”, segundo a Declaração da Congregação do Culto Divino de 19 de novembro de 1969:

“A Institutio (Instrução) não deve ser vista como um documento doutrinal, isto é dogmático. Em vez disso, é uma instrução pastoral e ritual.”

Isso porque a Igreja não poderia falhar ao aprovar um rito, e tal rito, não sendo aprovado por ela, não é um rito da Igreja.

Sem Sacrifício Propiciatório: “Na noite em que ia ser entregue…” A Missa Nova começa exatamente como uma narrativa, dando ensejo à concepção de ceia dos protestantes, de uma narração, e não da repetição do sacrifício incruento, removendo espaço para a noção de sacrifício propiciatório.

Rito Pobre: Além disso, mesmo que os textos doutrinais reafirmem a Missa Nova como estando dentro da concepção católica, negando o que as aparências do rito possam implicar, tudo isso é extrínseco ao rito e não intrínseco. Ou seja, para compreender que se trata de um sacrifício, um simples fiel precisaria recorrer aos documentos de instituição do rito, como Sacrosanctum Concilium e a Institutio Generalis. O rito, assim, necessita de algo como um apêndice ou uma nota de rodapé para sua compreensão. Dessa forma, ele não expressa claramente a presença real, especialmente por meio dos gestos do celebrante, e tampouco transmite uma noção de continuidade com o que existia anteriormente. Pelo contrário, promove uma ruptura com dois mil anos de Tradição.

Por Todos: A mesma estratégia utilizada para forçar a Missa Nova sobre os fiéis — ou seja, a imposição material de um rito que não foi formalmente aprovado com toda a solenidade, como foi a Missa de São Pio V, sendo, portanto, um rito ad experimentum — foi também aplicada para introduzir o “por todos” no lugar do “por muitos”. Isso deixou uma verdade teológica relegada a segundo plano em quase todas as línguas (com exceção do polonês), criando missas à beira da invalidez.

Impiedosa: A Missa Tradicional contém 1.182 orações, das quais cerca de 760 foram remanescentes até a Nova Missa. Dos 36% de orações que restaram, os revisores alteraram mais da metade antes de introduzi-las no Novo Missal. Assim, apenas cerca de 17% das orações da Missa Tradicional se mantiveram intactas na Missa Nova.

A Falta de Fé: Concluímos nossas colocações, portanto, conforme a opinião do Padre Trinchard e do Padre Hesse, que afirmam que todas as características da Missa Nova tendem à invalidade, apoiando-se no argumento de Leão XIII a respeito da missa anglicana, que, por não explicitar a noção de sacrifício – tendo removido tal alusão, foi também julgada inválida, e apoiados pela observação do Bispo Richard Williamson, que sugere que, atualmente, devido à falta de fé de muitos celebrantes e à maneira como o rito reflete apenas uma noção de ceia e ressurreição, e não de sacrifício, é possível concluir que, provavelmente, ao menos um quinto das missas celebradas no mundo seja inválido. 

Abusos litúrgicos e “criatividade litúrgica”: O saudoso Padre Joaquim F.B.M.V. observa que nem sequer se pode chamar o rito novo de “rito”, pois rito, por definição, pressupõe uma regra estável, fixa, algo que se recebe e se segue. A Missa Nova, ao contrário, foi concebida para adaptar-se ao gosto do freguês (ao sensus fidei dos fiéis) — e, por isso mesmo, carece da forma objetiva que caracterizaria um verdadeiro rito.

Desse modo, não podemos concluir senão o que Pio XII concluiu ao ler as confissões da vidente de Fátima: “…um dia virá em que o mundo civilizado renegará seu Deus, em que a Igreja duvidará como Pedro duvidou. Ela será tentada a crer que o homem se tornou Deus, que seu Filho é apenas um símbolo, uma filosofia como tantas outras, e nas igrejas os cristãos procurarão em vão a lâmpada vermelha em que Deus os espera”. (Monsenhor Georges Roche e Philippe St. Germain, Pie XII devant l’Histoire, Laffont, Pág. 1).

Os idealizadores da Missa Nova

Annibale Bugnini (1912-1982), criador da nova missa.

“Nessa Missa renovada, nada há que possa realmente incomodar os protestantes evangélicos” (Max Thurian em La Croix de 30 de maio de 1969.)

Mais tarde, em 1988, o mesmo Max Thurian foi ordenado padre, sem ter antes abjurado o protestantismo.

Indo além dos colaboradores, o verdadeiro responsável por destruir Roma não foi Aníbal, o militar, mas Aníbal Bugnini, o teólogo.

Eis a sua artimanha — larvatus prodeo (“avanço mascarado”).

O Padre Louis Bouyer, ele próprio membro do Consilium, afirmou em suas memórias que Bugnini habilmente usou Paulo VI e o Consilium, um contra o outro.

  • Se, no Consilium, houvesse resistência aos seus planos, Bugnini simplesmente prevalecia alegando que “o Santo Padre queria daquela maneira”.

  • Por outro lado, se o Papa demonstrasse preocupação com alguma mudança, então Bugnini o tranquilizava dizendo que “no Consilium todos pensavam igual”.

O pior, porém, é quando Bouyer recorda o peremptório “O Papa quer assim”, com que Bugnini silenciava os membros da comissão sempre que estes se opunham — como no desmantelamento da liturgia dos defuntos ou no expurgo dos versos “imprecatórios” dos Salmos do Ofício Divino.

Paulo VI, conversando com Bouyer sobre uma dessas reformas “que o Papa se viu aprovando sem estar mais satisfeito com ela do que eu”, perguntou-lhe:

“Mas por que os senhores todos se envolveram nesta reforma?”

Bouyer respondeu:

“É porque Bugnini nos garantiu que o senhor absolutamente queria isso.”

Ao que Paulo VI retrucou:

“Mas será possível? Ele me disse que os senhores foram unânimes em aprová-la…”

(Sandro Magister, “Le fiammeggianti memorie del convertito che Paolo VI voleva far cardinale”, L’Espresso, 16/09/2014.)

Ele, descarado como é, confessa seu crime!

“Em seus doze anos de existência a comissão realizou oitenta e dois encontros e trabalhou em segredo absoluto. Tão secreto, de fato, era seu trabalho que pegou até mesmo os oficiais da Congregação dos Ritos de surpresa.

A comissão gozava da plena confiança do Papa, que era mantido informado sobre seu trabalho por Montini e, ainda mais, semanalmente, pelo Padre Bea, confessor de Pio XII. Graças a eles, a comissão foi capaz de alcançar resultados importantes, mesmo durante os períodos em que a doença do Papa impedia que qualquer outra pessoa se aproximasse dele.” (Annibale Bugnini: The Reform of the Liturgy, pág. 9).

A revolução em tiara e capa.

A Instrução Permanente da Alta Venda

“Nosso objetivo final é o de Voltaire e da Revolução Francesa — a destruição final do Catolicismo, e até mesmo da idéia cristã…

O Papa, quem quer que ele seja, jamais virá até as sociedades secretas; as sociedades secretas é que devem dar o primeiro passo em direção à Igreja, com a finalidade de conquistar ambos.

A tarefa que iremos desempenhar não é trabalho de um dia, um mês ou um ano. Ela pode durar vários anos, talvez um século, mas em nossas fileiras o soldado morre, e o combate continua.

Não tencionamos atrair os Papas para a nossa causa, torná-los neófitos dos nossos princípios, propagadores de nossas idéias. Esse seria um sonho ridículo; e se por alguma eventualidade, cardeais ou prelados, por exemplo, por livre e espontânea vontade ou acidentalmente, tiverem acesso a uma parte de nossos segredos, isso não será de forma alguma um incentivo para desejar sua elevação à Cátedra de Pedro. Tal elevação arruinar-nos-ia. Só a ambição já bastaria para levá-los à apostasia, e as exigências do poder forçá-los-iam a nos sacrificar. O que devemos pedir, o que devemos esperar, assim como os Judeus esperam pelo Messias, é um Papa de acordo com nossas necessidades

Yves Marsaudon , grão-mestre maçom e amigo pessoal de João XXIII, João XXIII , com quem procurou harmonizar maçonaria e catolicismo.

No livro do Pe. Rosário Esposito “As Grandes Concordâncias entre Igreja e Maçonaria”, lemos o texto de uma entrevista concedida pelo barão Yves Maussardon a André Faucher:

“Estava muito próximo de Dom Roncalli, núncio apostólico em Paris. Ele me recebeu várias vezes na Nunciatura e em várias ocasiões veio à minha casa em Bellevue em Seine-et-Oise. Quando fui nomeado ministro da Ordem de Malta, expressei ao Núncio minhas perplexidades por ser membro da Maçonaria. Mons. Roncalli me aconselhou formalmente a permanecer na Maçonaria”.

O mesmo Marsaudon também entoou seu canto de vitória pelo triunfo dos “valores” maçônicos acolhidos pelo Concílio Vaticano II:

“Se existisse ainda algumas ilhotas em comunhão de pensamento com a época da Inquisição, elas seriam afogadas pela maré ascendente do ecumenismo e do liberalismo, cuja consequência das mais tangíveis será a inversão das barreiras espirituais que ainda dividem o mundo. Desejamos do fundo do coração o sucesso da Revolução de João XXIII” (Y. Marsaudon, L´oecumenisme vu par um franc-maçon de tradition, ed. Vitiano, Paris, 1964.)

E para os que não estão completamente convencidos, eis o final: “Os católicos não devem esquecer de que todos os caminhos [isto é, todas as religiões – n. d. r.] conduzem a Deus, e eles devem se manter nessa corajosa noção de liberdade de pensamento que – a este respeito pode-se realmente falar de revolução, partindo de nossas lojas maçônicas – se estendeu magnificamente acima da cúpula de São Pedro”; depois do Vaticano II, naturalmente, e é por isso que Marsaudon pôde concluir, exultante: “todo maçom digno do nome […] não fará outra coisa senão se alegrar sem nenhuma restrição dos resultados irreversíveis do Concílio” (Idem).

Esses contatos com a Franco-Maçonaria não ficaram sem consequências: João XXIII facilitou a revogação da excomunhão dos maçons, que foi ultimada por João Paulo II no Novo Código de Direito Canônico de 1983. A pertença à Franco-Maçonaria, bem como a adesão ao Modernismo, ou ao Comunismo, não figuram mais na lista das posições punidas com excomunhão.

A Maçonaria junto à Sinagoga já haviam “profetizado” tal tomada vertical da Igreja, de cima para baixo.

Os papéis secretos da Alta Venda dos Carbonários que caíram nas mãos do Papa Gregório XVI, cobrem o período de 1820 a 1846. Foram publicados a pedido do Papa Pio IX, por Crétineau-Joly em sua obra “l’Eglise Romaine et la Révolution”. Pelo Breve de aprovação dirigido ao autor em 25 de fevereiro de 1861, Pio IX confirma a autenticidade dos documentos, mas não permitiu que fossem divulgados os verdadeiros nomes dos membros da Alta Venda implicados com esta correspondência. Estas cartas são pavorosas, e se os Papas pediram sua publicação foi para que os fiéis saibam da conspiração contra a Igreja tramada pelas sociedades secretas, conheçam seus planos e estejam preparados para o caso de uma eventual realização.

Jacques Crétineau-Joly (1803-1875), católico contrarrevolucionário.

Assim nós marcharemos com mais segurança em direção à tomada da Igreja do que através dos panfletos de nossos irmãos na França e até mesmo do ouro da Inglaterra. Vocês querem saber a razão para isso? É que com isso, a fim de despedaçar a grande pedra sobre a qual Deus construiu a Sua Igreja, não precisamos mais do vinagre de Aníbal, ou de pólvora, ou mesmo de nossas armas. Teremos o dedo mínimo do sucessor de Pedro envolvido na conspiração, e para os fins desta cruzada, esse dedo mínimo é tão eficiente quanto todos os Urbanos IIs e todos os São Bernardos da Cristandade.

Não temos dúvidas de que atingiremos o objetivo final de nossos esforços. Mas quando? Mas como? O desconhecido ainda não foi revelado. Não obstante, como nada irá nos desviar de nosso plano, e ao contrário, tudo tende para ele, como se amanhã mesmo o sucesso já viesse a coroar o trabalho apenas esboçado, nós desejamos, nesta instrução, que permanecerá secreta para os meros iniciados, dar aos funcionários encarregados da suprema Venda [Loja] alguns conselhos que eles deverão incutir em todos os irmãos, na forma de instrução ou de um memorando…

Então, para assegurarmos um Papa com as características necessárias, é preciso primeiramente modelar para este Papa uma geração digna do reinado que sonhamos. Deixem os velhos e os de idade madura de lado; procurem os jovens, e se possível, até mesmo as crianças.

…Vocês irão forjar para si mesmos, com baixo custo, uma reputação de bons católicos e genuínos patriotas.

Tal reputação introduzirá nossas doutrinas junto ao clero jovem, bem como profundamente nos monastérios. Em poucos anos, por força dos acontecimentos, esse jovem clero terá ascendido a todas as posições hierárquicas; eles irão formar o conselho soberano, serão chamados a escolher o Pontífice que irá reinar. E este Pontífice, assim como a maioria de seus contemporâneos, estará mais ou menos imbuído com os princípios (revolucionários) italianos e humanitários que nós começaremos a colocar em circulação. É um pequeno grão de mostarda que confiaremos à terra, mas o sol da justiça irá desenvolvê-lo completamente, e vocês verão um dia a rica colheita que será proporcionada por essa pequena semente.

No caminho que estamos traçando para nossos irmãos existem grandes obstáculos a serem conquistados, diversas dificuldades a serem enfrentadas. Eles triunfarão sobre tais dificuldades por sua experiência e clarividência, mas o objetivo é tão esplêndido que é importante lançar todas as velas ao vento para alcançá-lo. Vocês querem revolucionar a Itália? Olhem para o Papa cujo retrato nós acabamos de traçar. Vocês desejam estabelecer o reino dos escolhidos sobre o trono da prostituta da Babilônia? Deixem o clero marchar sob o seu estandarte, acreditando marchar sob a bandeira das chaves apostólicas. Vocês pretendem fazer desaparecer o último vestígio dos tiranos e opressores? Lancem suas armadilhas [redes] como Simão Barjonas; lancem-nas nas sacristias, nos seminários e nos monastérios, em vez de lançá-las no fundo do mar. E se vocês não tiverem pressa, nós lhes prometemos uma pesca ainda mais milagrosa que a dele. O pescador de peixes tornou-se o pescador de homens; vocês semearão amigos em torno da Cátedra Apostólica. Terão assim pregado uma revolução com tiara e pluvial, marchando com a cruz e o estandarte, uma revolução que precisará ser pouco instigada para lançar fogo aos quatro cantos do mundo“. (Mons. Delassus, La Conjuracion Antichrétienne , Tomo III, págs. 1035-1092.) 

Os culpados: Os Papas pós-conciliares! Peões da maçonaria.

De João XXIII e seu aggiornamento até o hegelianismo de Bento XVI  e sua hermenêutica da continuidade; muita hermenêutica para pouca continuidade.

Francisco: A última fronteira.

Estou sozinho?

Não!

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Sobre Nós

O canal TradTalk foi iniciado em 2020, para discutir temas de interesse aos que desejam conhecer a história de nossa salvação pela ótica da Santa Tradição Católica, apoiando a posição de Dom Marcel Lefebvre.

O projeto nasceu com a intenção de fazer ventilar o pensamento católico tradicional em meio ao deserto que era a internet naquele tempo. No início, lançamos as bases de uma pequena bolha no Twitter, ponto de encontro para aqueles que ainda ousavam pensar segundo a Tradição. Em seguida, a partir de grupos privados que funcionavam, sem que o soubéssemos, como verdadeiros think tanks do catolicismo tradicional, passamos do estudo silencioso à apologética pública — consequência natural de quem aprende com seriedade: ensinar.

Desde então, buscamos lançar luz sobre os pontos mais difíceis da fé católica, sem diluí-los, mas enfrentando-os em sua integridade. Fizemo-lo por meio de podcasts, conferências, transmissões ao vivo, comentários sobre a atualidade e todos os instrumentos correntes que podem ser postos a serviço da defesa pública da verdade. O que começou como uma reação isolada tornou-se, ao longo dos anos, uma obra contínua: preservar, contra o ruído e a amnésia, a palavra íntegra da Tradição.

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